Sou atleta, tive covid-19 e melhorei. Quando posso voltar a treinar?
Como já se sabe, parte das pessoas acometidas pelo coronavírus tem sintomas que afetam a saúde respiratória e física. Por isso, no caso de atletas que contraem a covid-19, sugere-se o afastamento da atividade física.
Exercícios vigorosos têm um efeito potencial de imunossupressão, por isso essas pessoas têm susceptibilidade a quadros de infecção de trato respiratório superior e aumento do quadro de "janela aberta", que é um período frágil de exposição a qualquer tipo de vírus.
Mesmo quando não infectados, a decisão de continuar os treinamentos deve ser analisada. No Brasil, alguns espaços para treinamento de alto rendimento anunciaram fechamento durante a pandemia, pois pode ocorrer uma possível transmissão viral entre equipes.
Além do mais, a prática esportiva em equipes sem o distanciamento adequado pode aumentar a probabilidade de transmissão. Em nota, o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) reforçou a importância dos atletas realizarem uma nutrição adequada, balanceada — sem nenhum tipo de extremismo — e dar continuidade a orientações nutricionais adequadas (tomando sempre os cuidados adequados com as informações de "milagres" encontrados na internet).
Quando posso voltar a treinar?
Essa foi uma pergunta que me fizeram algumas vezes. Quando se trata de uma gripe comum ou infecção que já estamos acostumados, a regra recomendada é a verificação pescoço para baixo. Ou seja, a qualquer sintoma abaixo do pescoço como cansaço respiratório ou que potencialize doenças respiratórias, a conduta é afastamento e período de descanso mais prolongado do atleta até que melhore e não apresente mais esses sintomas — que é uma estratégia mais conservadora, por exemplo, ≥ 10 dias desde o início dos sintomas mais 7 dias após a resolução dos sintomas. Porém, quando o atleta tem sintomas mais leves acima da linha do pescoço, como somente coriza, sem sintomas e sinais clínicos mais relevantes, pode continuar a treinar moderadamente.
Entretanto, essa é uma conduta quando estamos expostos a patologias conhecidas. Com a covid-19, estamos de olhos vendados e todas as condutas devem ser alinhadas conforme os estudos saem.
Uma preocupação importante em indivíduos atléticos envolve o tempo ou a capacidade de retornar ao esforço físico após uma infecção. Muitos jovens com covid-19 parecem desenvolver uma doença relativamente leve e se recuperar quase completamente em 5 a 7 dias. No entanto, um risco aparente aumentado de deterioração adicional foi sugerido para ocorrer entre os dias 7 e 9, com indivíduos desenvolvendo manifestações mais fulminantes do trato respiratório inferior e exigindo cuidados médicos mais intensos.
Por isso, é necessário uma avaliação e orientação individualizada. Não há um protocolo único, não há evidências densas e muito menos estudos longos que apresentem eficiência de uma ou outra conduta. Por isso, via de regra, a melhor opção é análise individualizada e descanso prolongado em casos sintomáticos.
Saúde mental também é essencial
Um dos grandes problemas da covid-19, além do próprio vírus, é a saúde mental. Para todos está muito difícil garantir uma constância na saúde mental e o bem-estar. Por isso, em atletas e praticantes não infectados e afastados de suas atividades, continuar o treinamento de forma moderada é um componente importante para reduzir o risco de ansiedade e depressão.
À medida que avançamos durante a pandemia, sempre que possível, é crucial que orientações e estratégias sejam desenvolvidas usando as melhores evidências disponíveis. É necessário coletar dados mais robustos sobre como a covid-19 (e de fato outras infecções) afeta populações atléticas, o que sem dúvida complementará o trabalho que está sendo realizado para compreender o efeito da aptidão física geral na suscetibilidade, comportamento da doença e prognóstico da covid-19.
A doença respiratória é uma questão fundamental para os serviços médicos dos atletas. A infecção aguda do trato respiratório é a principal causa de consulta médica não relacionada a lesões e está associada a uma perda significativa no tempo de treinamento e competição de atletas de elite. Portanto, é encorajador que o Comitê Olímpico Internacional já tenha convocado um painel de especialistas para tratar de questões mais amplas relacionadas à saúde respiratória dos atletas, que visa publicar orientações baseadas em evidências em um futuro próximo.
Esta pandemia é um momento desafiador para todos, mas algumas populações, como atletas, têm necessidades muito específicas. Nesse turbilhão de mudanças, é importante identificar alguns dos desafios únicos que essa população enfrenta atualmente para garantir que essas necessidades sejam atendidas e que a saúde e o bem-estar dessa população sejam protegidos.