Como manter as bactérias do seu intestino saudáveis
A busca pelo entendimento e pela classificação do sistema intestinal, bem como a compreensão sobre as suas células não são recentes. Os primeiros reportes sobre a existência de uma configuração celular altamente especializada foi encontrada na literatura médica ao final do século 19 e daí por diante essa função foi extensivamente estudada.
A ciência já descobriu que o trato digestivo tem extensa diversidade nos tipos de bactérias que o habitam: mais de 1014 tipos, não sendo diferente no intestino, local em que esses micro-organismos são extremamente dinâmicas e modificam as suas concentrações e variedades com grande velocidade, além de viverem de forma equilibrada e simbiótica com as demais células presentes no corpo humano –chamamos este complexo ecossistema de microbiota intestinal.
A formação da microbiota
Começamos a formar e "habitar" o nosso intestino quando nascemos –mais precisamente no momento do parto, quando o bebê passa pelo canal vaginal e tem contato direto com as bactérias do local. Depois, o leite materno atua de forma positiva no desenvolvimento da microbiota. Inúmeras literaturas cientificas relatam que adultos que receberam leite materno na infância apresentam maior variabilidade da composição microbiana, em comparação aos que não tomaram leite materno.
A nossa microbiota ou ecossistema intestinal consolida-se entre os dois e três anos, sendo plenamente influenciada pelos alimentos ingeridos, mas vale a pena pontuar que a partir da adolescência e durante a vida adulta teremos modificações importantes neste ambiente, decorrente novamente das escolhas alimentares, do estilo de vida, da qualidade de sono, dos medicamentos consumidos, entre outros fatores. A exposição aos medicamentos e doenças crônicas são condições que se estendem durante a fase de envelhecimento, momento em que naturalmente observamos uma redução na população favorável em nossa microbiota.
Intestino e imunidade
Uma das primeiras linhas de defesa do organismo humano encontra-se no trato digestivo, mais precisamente na luz do intestino, mas até chegar lá as bactérias que entrarem em nosso corpo pela boca terão que vencer o pH ácido do estômago e todas as secreções digestivas (principalmente a ação das enzimas) que serão liberadas.
Caso cheguem ativas ao intestino e ultrapassem uma grande camada de muco presente para proteger a sua adesão ao epitélio intestinal, sabiamente serão ativadas células intestinais específicas que possuem a capacidade de reconhecer estes elementos (chamados de patógenos) e desencadearem uma resposta imunológica específica, com a secreção de inúmeras substâncias químicas, objetivando combater este invasor.
Intestino e saciedade
É também no intestino que percebemos o momento de parar de comer. O nosso sistema digestivo é repleto de terminações nervosas que têm como habilidade o envio de mensagem ao nosso cérebro sobre o quanto e o que comemos; alguns dos atores deste processo recebem o nome de gastrina, secretina, colecistocinina, neuropeptídio Y entre outros.
A secreção dessas e de outras substâncias são sinalizadas a partir da quantidade de alimentos, do seu tipo e a também da eficiência de nossas atitudes frente ao momento da refeição, como mastigação e nível de estresse. O neuropeptídeo Y, por exemplo, contribuirá com a propagação e percepção da sensação de saciedade na área do núcleo arqueado; outras destas substâncias terão diferentes locais ou formas de atuação, mas irão disparar gatilhos para comermos mais ou menos, ou seja, a sensação de fome ou saciedade –este é um dos mecanismos que regulam o nosso consumo alimentar e é a partir dele que a expressão citada no começo de nossa conversa foi fundamentada.
Outra informação de extrema importância é que o intestino humano é capaz de processar e aproveitar as fibras dietéticas presentes em alimentos integrais, farelos, frutas, verduras e legumes para a produção de ácidos graxos de cadeia curta, que são fonte de energia e favorecem o crescimento das bactérias benéficas que habitam o intestino. Logo, nossa alimentação representa influência direta no que chamamos de saúde intestinal.
Dicas práticas para manter seu intestino saudável
- Consuma leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, grão- de-bico) em pelo menos uma das grandes refeições do dia. Estes alimentos são ricos em fibras solúveis, que ajudam na formação dos ácidos citados acima e que protegem o nosso intestino.
- Alimentos integrais como arroz, pães, aveia, quinoa, linhaça atuam na restauração de nossa microbiota e devem estar presentes frequentemente em nossa alimentação. Utilize também farelos e farinhas integrais sobre as saladas e frutas.
- Prefira alimentos frescos e in natura, como frutas, verduras e legumes. A quantidade recomendada é de três a cinco porções de frutas por dia e dois pratos cheios de verduras e legumes crus e cozidos.
- Hidrate-se bem! A água "limpa" o nosso organismo, além de ser importante para reações metabólicas fundamentais para a manutenção de nossa saúde.
- Evite alimentos industrializados conhecidos como processados ou ultraprocessados, uma vez que apresentam elevada quantidade de conservantes, agentes químicos, sódio, açúcar e gorduras, além de serem pobres em fibras alimentares.
- Mantenha um estilo de vida saudável e a mente em equilíbrio, pois condições de estresse também podem "liberar" substâncias que prejudicam o funcionamento e a saúde de nosso intestino.