Descubra se você é "viciado" em exercício e está treinando demais
Paola Machado
28/03/2018 04h00
Crédito: iStock
Já sabemos que o exercício físico é uma das principais ferramentas para a promoção de saúde, ajuda na prevenção de doenças do coração e melhora o humor e a qualidade de vida.
Porém, o que chama a atenção atualmente é que mais de 30% dos praticantes de atividades físicas apresentam um comportamento de excesso de treinamento ou vício pelo treinamento. Essa compulsão, apesar de associada a algo que traz benefícios, pode prejudicar a saúde.
Uma pesquisa realizada no Brasil em 2009 (Mododo, V.M. et al) analisou o comportamento de atletas profissionais de diversas modalidades, incluindo jogadores de futebol, vôlei, judocas e ginastas, e os comparou com praticantes amadores de atividade física regular. Conclusão: 36% dos amadores e 33% dos profissionais apresentavam o que chamamos de dependência de exercícios e tinham uma piora na qualidade de vida e do humor por conta deste vício.
Aumento da ansiedade e da depressão, insônia, agressividade, alterações no sistema imunológico, lesões e alterações hormonais são características de atletas que apresentam o sintoma de dependência.
Nesses casos, quanto mais exercício a pessoa faz, mais ela precisa fazer, podendo chegar a um estágio de overtraining, síndrome neuro-endócrina que resulta em modificações fisiológicas e/ou psicológicas. Às vezes, o atleta treina mesmo impedido clinicamente, quando está com uma lesão ou fratura grave. O problema ainda pode estar diretamente associado a distúrbios alimentares (anorexia e bulimia) e a transtornos de imagem corporal (vigorexia).
Outro elemento que impacta negativamente o viciado é a substituição de atividades do cotidiano pelo treinamento físico. Há casos de pessoas que perdem compromissos profissionais para treinar.
Em 2012, foi lançada uma organização com intuito de ajudar profissionais a ficarem atentos aos sinais e sintomas da dependência de exercício. O nome é "Destructively Fit". Criado pela ACE e certificado pela NASM, o projeto surgiu pensando em aumentar a conscientização na área fitness e de saúde mental, pois muitos profissionais não sabem detectar o vício pelo treinamento.
Os estudiosos desse projeto acreditam que a dependência do exercício é uma doença e não um vício. O excesso de exercício é parte de um transtorno, sendo um desequilíbrio e um desvio de comportamento.
Os sinais mais comuns são:
- Realizar exercícios muitas vezes ao dia;
- Ter necessidade de sempre chegar ao ponto de exaustão;
- Preocupação rotineira e exacerbada com o exercício;
- Sofrimento severo quando não consegue praticar um exercício ou movimento específico;
- Praticar exercícios mesmo doente ou com lesões;
- Mudança de comportamento diretamente proporcional ao desempenho.
O que é importante ressaltar é que a dependência é causada pelo conflito entre os fatores biológicos, psicológicos, familiares e sociais.
A sociedade ajuda muito no desenvolvimento desse distúrbio, principalmente por conta dos padrões estipulados pelo meio em que vivemos. O marketing da indústria fitness pode ajudar e motivar muitos, porém, é algo destrutivo para outros.
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Como evitar o overtraining
As pessoas com distúrbios e dependência realizam exercícios em excesso e podem desenvolver o overtraining. Para que isso não aconteça, é necessário descansar os músculos e aprender os sinais e avisos de limite do corpo. Ou seja, é superimportante ter conhecimento do organismo.
O overtraining ocorre quando trabalhamos em excesso e sempre no limite, resultando em fadiga crônica e redução do desempenho. Esse quadro é comum em atletas e pessoas com dependência do exercício. Assim, ocorre uma falta de progresso no treino, resultando na necessidade aumentada da fase de recuperação.
Os sinais mais comuns de que o corpo precisa de descanso são:
- Oscilação da frequência cardíaca e pressão arterial em repouso;
- Dor e fadiga crônicas. Mesmo dias após o exercício, a recuperação fica mais lenta;
- Aumento da probabilidade de lesões, resfriados e infecções. Isso porque há uma queda de resposta do sistema de defesa, fazendo com que o organismo fique mais susceptível à agressão de agentes externos;
- Oscilações no apetite e, consequentemente, no peso;
- Modificações no padrão de sono.
Para evitar o problema é necessário descansar de uma a duas vezes por semana, pois, na recuperação adequada, nosso corpo constrói músculos mais fortes e de mais rápido poder de contração.
Outras dicas para evitar o overtraining:
- Realize exercícios com moderação e respeite os limites do seu corpo. Fique atento a qualquer sinal de dependência;
- Diminua a variedade de exercícios e, quando incluir um exercício novo, faça a fase de adaptação;
- Aumente a intensidade do treino de forma progressiva;
- Faça boas escolhas alimentares. Procure um nutricionista para elaborar o cardápio ideal para seu treino.
Com o intuito de tornar a atividade física sempre saudável, podemos dizer que o exercício físico deve ser sempre realizado com o planejamento de um profissional habilitado (educador físico) e que devemos respeitar nosso corpo, dando-lhe o devido descanso para se recuperar de cada sessão de treinamento.
REFERÊNCIAS:
– Modolo, V.B.; Antunes, H.K.M.; Gimenez, P.R.B.; Santiago, M.L.M.; Tufik, S.; Mello, M.T. Negative addiction to exercise: are there differences between genders?. Clinics (USP. Impresso), v. 66, p. 255-260, 2011. Citações:21|40|34
– Modolo, V.B.; Mello, M.T.; Gimenez, P.R.B.; Tufik, S.; Antunes, H.K.M. Dependência de exercício físico: humor, qualidade de vida em atletas amadores e profissionais. Revista Brasileira de Medicina do Esporte (Impresso), v. 15, p. 355-359, 2009. Citações:5|10|10.
– Rosa, D.A.; Mello, M.T.; Negrao, A.B.; et al. Mood changes after maximal exercise testing in subjects with symptoms of exercise dependence. Percep Mot Skills. 2004;99:341-53.
– Rosa, D.A; De Mello, M.T.; Souza-Formigoni, M.L.O. Dependência da prática de exercícios físicos: estudo com maratonistas brasileiros. Rev Bras Med Esporte. 2003;9:9-14.
Sobre a autora
Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP
Sobre a coluna
Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.