Músculos do core: qual a importância deles no movimento?
Paola Machado
28/02/2019 04h00
Crédito: iStock
É cada vez mais comum ouvirmos que é muito importante o fortalecimento do core para a prática de esportes e até mesmo para as atividades do dia a dia. Mas no que consiste o core?
Core é o nome dado para o conjunto de músculos que fazem parte do complexo "lombar-pelve-abdominal-períneo-quadril", composto por 29 pares de músculos que englobam e sustentam o tronco e estabilizam a coluna. Podemos citar como estabilizadores músculos profundos, como o músculo transverso do abdômen, o músculo oblíquo, músculo multifídus, o músculo transverso espinhal e a musculatura do assoalho pélvico.
Crédito: Arte UOL VivaBem
Qual a importância do core?
A associação dos sistemas ósseo, articular e muscular da região do tronco formam o centro do corpo, que em conjunto permitem a ampla gama de movimentos humanos, exercendo também um papel importante no movimento de braços e pernas.
A importância da estabilidade do core está no controle e equilíbrio entre movimento e rigidez, em associação com demais músculos do corpo, a fim de manter sua funcionalidade.
O funcionamento adequado do core promove estabilização tanto em posturas estáticas como em dinâmicas. Não é à que os músculos estão externos e revestindo as articulações. Eles existem para controlar a mecânica articular e impedir uma lesão, o que justifica a importância de sua ativação, além disso, os músculos devem trabalhar em sinergia, ou seja, de forma associativa em cooperação.
Ativação do core pode ser potencializada pela respiração
O treinamento do core associado à respiração apical-costal, ou seja, inspirações profundas pelo nariz com expansão da caixa torácica e expiração forçada, porém prolongada, pela boca com mandíbula e os lábios relaxados entreabertos, retraindo a caixa torácica, potencializa a ativação do core pelo aumento da pressão interna no abdômen, que gera um aumento de rigidez na musculatura do tronco pela ativação adequada.
Já que o core tem papel fundamental para a estabilidade da coluna, como lembrar o tempo todo da sua ativação?
Com a repetição do treinamento do core surge a automatização de sua ativação durante os movimentos em diferentes tarefas e ambientes.
Além da estabilidade da coluna, quais outros benefícios?
- Alinhamento corporal.
- Prevenir e reduzir dores e lesões.
- Manter a mobilidade articular do tronco.
- Potencializar o desempenho de atletas, graças ao aumento do desenvolvimento de potência, da eficiência e estabilidade.
- Melhorar o equilíbrio.
- Melhorar as adaptações neurais.
Por que é tão difícil ativar o core?
Muitas pessoas possuem dificuldade para recrutar os músculos do core por apresentarem prejuízo na estabilidade do segmento que envolve coluna lombar e pelve, em sua maioria pessoas com lombalgia (dor na coluna lombar).
A estabilidade é o equilíbrio entre a mobilidade e a rigidez, se um desses está diminuído ou exacerbado, altera-se o equilíbrio e surgem prejuízos, principalmente nos músculos do core, pela sua dificuldade de recrutamento, que levam à fraqueza. Neste caso, para evitar que o corpo pare de se mover, é realizado por meio do sistema neural um processo de substituição compensatória, onde outras musculaturas passam a exercer funções que não são delas, para manter o movimento. Isso prejudica suas funções de origem, altera o sinergismo muscular e a mecânica articular, o que em médio e longo prazo pode resultar no surgimento de comorbidade/lesão em qualquer parte do corpo.
É válido salientar que a literatura atual vem nos mostrando que o prejuízo na estabilidade lombo-pélvica e dificuldade para recrutar os músculos do core é consequência da dor lombar crônica. Enfatizamos a importância de que, se houver qualquer sinal de dor na coluna lombar (lombalgia), é importante buscar profissionais da área da saúde para efetivo tratamento, para evitar a cronicidade desta dor.
A dificuldade no recrutamento e ativação do core tem solução! Exercite-se e aprimore essa habilidade por meio da repetição, que leva a aprendizagem motora eficaz, tornando a coluna resiliente na função exigida.
O ideal é que se trabalhe sua ativação partindo do princípio de especificidade, ou seja, associada a demais movimentos funcionais do dia a dia, pois a associação à função potencializa seu recrutamento e traz funcionalidade às estruturas do corpo. Além disso, seu trabalho é potencializado quando o exercício é realizado de forma lenta e controlada –ou em isometria –, e com uma boa respiração.
Atualmente, existem modalidades que possuem como base a ativação do core, dentre elas a mais recomendada é o método pilates, pelos princípios que carrega de centralização, respiração, concentração, fluidez, controle e precisão.
Por se tratar de uma musculatura profunda, recomenda-se que o seu fortalecimento seja feito sob a supervisão de profissionais da área da saúde capacitados, que poderão corrigir compensações e adaptar a prática de acordo com o seu quadro geral de saúde.
*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP Dra. Renata Luri e da fisioterapeuta Dra. Bruna Barreto
Referências:
– ABBOUD, Jacques et al. Motor adaptations to trunk perturbation: effects of experimental back pain and spinal tissue creep. Journal of neurophysiology, 2018.
– ATKINS, Stephen J. et al. Electromyographic response of global abdominal stabilizers in response to stable-and unstable-base isometric exercise. The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 29, n. 6, p. 1609-1615, 2015.
– FERREIRA, CED et al. Core Training: suas aplicações e os seus efeitos nos esportes. EF Deportes, v. 163, 2011.
– HOPPES, Carrie W. et al. The efficacy of an eight-week Core stabilization program on Core muscle function and endurance: a randomized trial. International journal of sports physical therapy, v. 11, n. 4, p. 507, 2016.
– HUBLEY-KOZEY, Cheryl; MORESIDE, Janice M.; QUIRK, D. Adam. Trunk neuromuscular pattern alterations during a controlled functional task in a low back injured group deemed ready to resume regular activities. Work, v. 47, n. 1, p. 87-100, 2014.
– KIM, Sung-Tae; LEE, Joon-Hee. The effects of Pilates breathing trainings on trunk muscle activation in healthy female subjects: a prospective study. Journal of physical therapy science, v. 29, n. 2, p. 194-197, 2017.
– PARK, R. J. et al. Anticipatory postural activity of the deep trunk muscles differs between anatomical regions based on their mechanical advantage. Neuroscience, v. 261, p. 161-172, 2014.
– PHROMPAET, Sureeporn et al. Effects of pilates training on lumbo-pelvic stability and flexibility. Asian Journal of sports medicine, v. 2, n. 1, p. 16, 2011.
– SZCZYGIEŁ, Elżbieta et al. The impact of deep muscle training on the quality of posture and breathing. Journal of motor behavior, v. 50, n. 2, p. 219-227, 2018.
– TOKUNO, C. D. et al. Recruitment order of the abdominal muscles varies with postural task. Scandinavian journal of medicine & science in sports, v. 23, n. 3, p. 349-354, 2013.
Sobre a autora
Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP
Sobre a coluna
Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.