Entorse de tornozelo: quais os fatores de risco e como tratar o problema?
Paola Machado
11/07/2019 04h00
Crédito: iStock
A entorse de tornozelo é uma lesão muito comum entre a população em geral e em atletas. Apesar da sua alta prevalência e incidência, boa parte das pessoas não procuram por tratamento.
O grande problema é que uma entorse de tornozelo não tratada pode levar à instabilidade crônica do tornozelo, dor persistente, inchaço e entorses recorrentes. Além disso, ao longo do tempo, pode agravar para degenerações articulares e lesões osteocondrais (defeitos na cartilagem de uma articulação e no osso).
Fatores de risco para entorse
Existem alguns fatores que podem aumentar a chance de uma entorse de tornozelo:
- Diminuição de força, de propriocepção, de amplitude de movimento e de equilíbrio. A dorsiflexão limitada (o movimento de levar a ponta do pé para cima) e uma redução da propriocepção podem levar a um risco aumentado para ocorrência de entorse.
- Mulheres têm maior risco de sofrer entorses comparadas aos homens. A utilização de salto alto também é relatada como um fator de risco nas mulheres.
- O peso, altura, mau alinhamento de membros inferiores e maior pressão na região medial (de dentro) do pé também influenciam.
- A maior incidência de lesões no tornozelo foi relatada nos esportes, principalmente no vôlei de quadra, escalada, basquete e esportes de campo. No futebol, por exemplo, jogar na grama artificial pode aumentar o risco de lesão no tornozelo. Além disso, atacantes e zagueiros têm um risco maior devido ao contato com adversários. No voleibol, a aterrissagem de um salto parece ser o fator de risco mais importante.
Como ocorre a lesão?
O mecanismo de lesão mais comum é a inversão (ponta dos pés voltada para dentro) combinada com a flexão plantar (ponta dos pés para baixo) e a rotação lateral da perna com o pé fixo no solo.
Diagnóstico
O diagnóstico clínico envolve a presença de hematoma, dor local e testes específicos. Além disso, o exame de diagnóstico físico tardio (4 a 5 dias após a lesão) proporciona um diagnóstico melhor.
Em geral, as lesões do ligamento do tornozelo são classificadas em três graus que representam gravidade crescente:
- Grau I Leve torção de tornozelo, estiramento do ligamento;
- Grau II Lesões moderadas de entorse, ruptural parcial do ligamento;
- Grau III Lesão grave por entorse, ruptura completa do ligamento;
Apesar do exame físico ser o mais indicado para diagnóstico, exames de ultrassonografia e ressonância magnética também podem ser utilizados para diagnóstico e classificação da lesão. Radiografias também podem ser utilizadas para descartar possíveis fraturas.
Tratamento
O tratamento conservador é indicado na grande maioria dos casos. Um curto período de imobilização, inferior a 10 dias, pode ser realizado para a redução da dor e inchaço na fase aguda. As atividades físicas devem ser suspensas e é preciso evitar apoiar o pé no chão. Nesse período, aplique gelo na região e lembre-se de proteger o tornozelo em um pano ou toalha e mantenha o pé elevado.
Uma vez com entrose, sinal vermelho!
A fisioterapia tem um papel importante na reabilitação após entorse na redução da dor e inchaço. É importante também na fase de preparo e retorno às atividades e, principalmente, para a prevenção da reincidência da lesões, restabelecendo o ganho da amplitude de movimento, da força muscular, da coordenação motora, da propriocepção e na melhora da função.
Medicação somente para diminuir dor e inchaço
Os anti-inflamatórios não esteroidais podem ser usados em lesões agudas com o objetivo principal de reduzir dor e inchaço. Contudo, é preciso cuidado, pois pode haver complicações associadas ao uso, podendo suprimir ou atrasar o processo de recuperação. Sendo assim, é necessária prescrição médica para a utilização desse tipo de medicamento. Não se automedique.
Cirurgia em casos específicos
O tratamento cirúrgico é indicado para pacientes que apresentam instabilidade crônica após a entorse, pacientes que não responderam a um programa de fisioterapia baseado em exercícios ou para atletas profissionais, uma vez que o tratamento cirúrgico pode garantir um retorno mais rápido para jogar.
Apesar dos bons resultados clínicos da cirurgia, o tratamento conservador ainda é o mais indicado, evitando a exposição desnecessária ao tratamento invasivo e risco de complicações. Sendo assim, as decisões de tratamento devem ser tomadas individualmente sob a orientação de uma equipe médica.
Dica
Se você já sofreu entorse no tornozelo ou se após o primeiro episódio a entorse de tornozelo se tornou frequente, procure um serviço especializado para iniciar um programa de exercício físico adequado que o ajude a reestabelecer a função do seu tornozelo e prevenir novas entorses e complicações que podem ocorrer ao longo do tempo.
*Colaboração da fisioterapeuta Doutora pela UNIFESP, Dra. Renata Luri e da fisioterapeuta Pós-graduada em Fisioterapia Musculoesquelética pela Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo, Dra. Ana Clara Desideiro
Referências:
– KERKHOFFS, Gino M. et al. Diagnosis, treatment and prevention of ankle sprains: an evidence-based clinical guideline. Br J Sports Med, v. 46, n. 12, p. 854-860, 2012.
– LOUDON, Janice K.; REIMAN, Michael P.; SYLVAIN, Jonathan. The efficacy of manual joint mobilisation/manipulation in treatment of lateral ankle sprains: a systematic review. Br J Sports Med, v. 48, n. 5, p. 365-370, 2014.
– VUURBERG, Gwendolyn et al. Diagnosis, treatment and prevention of ankle sprains: update of an evidence-based clinical guideline. Br J Sports Med, v. 52, n. 15, p. 956-956, 2018.
Sobre a autora
Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP
Sobre a coluna
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