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A inflamação no organismo provocada por alimentos pode causar doenças?

Paola Machado

16/10/2019 04h00

Crédito: iStock

Diversos estudos experimentais indicam que a dieta desempenha um papel sobre a inflamação, por meio da regulação da expressão de citocinas inflamatórias. A inflamação é considerada uma resposta do organismo à algum tipo de injúria, sendo cronicamente relacionada à progressão de diversas doenças crônicas não-transmissíveis, como aterosclerose, câncer, síndrome metabólica, diabetes mellitus, depressão e entre outras doenças.

O índice inflamatório da dieta foi sugerido inicialmente em 2009 por Cavichhia e adaptado em 2014 por Shivappa. É uma forma de indicar o poder que um padrão alimentar ou dieta tem em aumentar ou diminuir o processo inflamatório no organismo.

O índice inflamatório da dieta é gerado a partir da contabilização de ingestão de diversos nutrientes e/ou alimentos. Cerca de 1943 estudos foram revisados para verificar a influência dos nutrientes em aumentar ou diminuir o processo inflamatório. Dentre os nutrientes/alimentos contabilizados para gerar o escore do índice inflamatório estão: gordura total, ácidos graxos monoinsaturados, ácidos graxos polinsaturados, ômega 3, ômega 6, ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans, cafeína, betacaroteno, vitaminas do complexo B, vitamina D, vitamina E, colesterol, calorias, fibras, compostos bioativos (antioxidantes), carboidratos, proteínas, álcool, magnésio, selênio, zinco, alecrim, cebola, alho gengibre, açafrão, cúrcuma e pimenta.

E o que os estudos dizem?

O índice inflamatório da dieta aumentado apresenta relação com a elevação da produção de citocinas inflamatórias, as quais aumentam o processo inflamatório em nosso organismo. Esta relação já foi demonstrada em adolescentes por meio do estudo publicado por Shivappa e colaboradores em 2017 e em adultos pelo estudo publicado por Phillips e colaboradores em 2018 e Shivappa colaboradores em 2017.

Uma dieta com caráter mais inflamatório está relacionada ao aumento de um perfil lipídico aterogênico, caracterizado por maiores concentrações de VLDL, LDL, aumento na produção de substancias inflaatorias, como PCR, IL-6, TNF-α e redução de macadores anti-inflamatórios como adiponectina. O risco de síndrome metabólica é 37% maior entre aqueles indivíduos que apresentam dieta com maior índice inflamatório.

Estudo conduzido por Denova-Gutiérrez e colaboradores mostrou que o índice inflamatório da dieta também se relaciona positivamente ao risco aumentado para desenvolvimento de diabetes mellitus do tipo 2. Maior risco de obesidade também se relacionou aos maiores valores de índice inflamatório da dieta , de acordo com estudo de Kord e colaboradores em 2017.

Uma recente meta-análise publicado por Li e colaboradores avaliou 44 estudos contendo ao total 1.082.092 participantes. A conclusão deste trabalhou mostrou que um elevado índice inflamatório da dieta está associado ao maior risco de desenvolvimento de câncer.

Outro estudo de metaanálise realizado por Shivapa e colaboradores avaliou 14 estudos clínicos e revelou que existe uma associação positiva entre maior índice inflamatório da dieta e doença cardiovascular. O grupo de indivíduos com maiores valores de dieta inflamatória apresentaram risco 36% maior de incidência e mortalidade de doença cardiovascular. Estes resultados também foram confirmados em outro estudo de revisão sistemática e meta-analise conduzida por Namazi et al (2018).

A índice inflamatório da dieta também já se associou à maiores escores de sintomas de derpessao em mulheres adultas. As mulheres com maiores valores de dieta inflamatória apresentaram 30% mais chance de sintomas depressivos.

Considerações

Apesar de todos esses estudos serem recentes e exigirem mais estudos para concretizar a relação estabelecida entre índice inflamatório da dieta e doenças crônicas, não podemos ignorar o impacto que a alimentação exerce no desenvolvimento das doenças de maneira geral. Portanto, mantenha sempre uma alimentação equilibrada e a prática de exercício físico para prevenção e controle de doenças crônicas.

*Colaboração da Dra. Deborah Masquio, nutricionista clínica funcional, clínica 12 semanas e pesquisadora da UNIFESP.

Referências:
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Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

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