Conheça a síndrome da dor miofascial, que afeta pescoço, lombar e cabeça
Paola Machado
06/11/2019 04h00
Crédito: iStock
Você sabe qual o sintoma que mais leva as pessoas a buscarem por atendimento médico em todo o mundo? Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, é a dor músculo-esquelética aguda ou crônica (aquela de duração maior do que 3 a 6 meses).
Entre essas dores, a Síndrome da Dor Miofascial (SDM) é a causa mais comum devendo sempre ser avaliada:
- Dor de cabeça Pessoas com dores orofaciais como cefaléias tensionais.
- Dor temporo-mandibular Dor na face.
- Dor no pescoço e coluna lombar, incluindo as dores pélvicas de origem desconhecida.
O que é a Síndrome da Dor Miofascial?
Se caracteriza pela presença de locais sensíveis e muito dolorosos em áreas musculares tensas e rígidas, que podem levar à dor em queimação e sensação de peso. A dor é profunda e mal localizada, sem aparente diagnóstico, pode provocar uma dor percebida à distância (em outro local, chamado de dor referida). É comum a percepção de uma contração muscular à palpação local. Podem estar presentes:
- Diminuição da mobilidade e fraqueza (fenômenos motores).
- Dormências e formigamento (fenômenos sensoriais).
- Vertigens (fenômeno autonômico presente na dor orofacial).
- Urgência urinária e desconforto ao urinar (fenômeno autonômico na dor pélvica).
A Ciência aponta… É uma das mais frequentes causas de dor nas costas e de dor no pescoço. Pesquisadores avaliaram que dos pacientes que referem dor crônica na cabeça e no pescoço (há mais de seis meses de duração), 55% tinham o diagnóstico primário de Síndrome da Dor Miofascial.
O que acontece com o seu corpo na Síndrome Miofascial? Na Síndrome, o músculo não trabalha com eficácia. A banda de tensão restringe o alongamento do músculo e, por isso, há limitação de movimento. Ocorre a fraqueza pela inibição muscular, assim como pelo encurtamento muscular. A coordenação é afetada bem como a inibição reflexa, a performance cai e há maior chance de fadiga e lesão. Frequentemente se relaciona com queixas de alterações do sono e do humor, depressão e ansiedade. Em casos de fibromialgia pode haver a coexistência de ambas as doenças.
Faixa de Risco
· Mulheres e pessoas na faixa etária entre 31 e 50 anos
· Em idades mais avançadas atinge principalmente homens
· Aumenta a incidência com a idade
· Alguns fatores influenciam como o estresse físico (bruxismo e má postura), estresses imunológico, hormonal, infeccioso e psicológico.
Causas da Síndrome Miofascial: As causas permanecem desconhecidas. Algumas hipóteses giram em torno de alterações estruturais, bem como a hipótese integrada que alia essas desordens estruturais a um fenômeno de sensibilização central que se caracteriza por disfunção na percepção da dor, na qual o cérebro passa a interpretar vários estímulos, inclusive os que não são dolorosos, como dor – daí o termo amplificação da dor.
Diagnóstico: Uma vez que são elementos centrais para o diagnóstico, os pontos-gatilho devem ser avaliados por um profissional de saúde especialista.
Importância de buscar tratamento adequado nas fases iniciais: O diagnóstico precoce, seguido de tratamento especializado e multidisciplinar são diferenciais para se evitar a cronicidade e a piora da dor. As estratégias de tratamento podem incluir fisioterapia, psicoterapia e tratamento farmacológico.
A curto prazo, é possível trabalhar diversas técnicas para inibir a banda tensa muscular. Mas geralmente, o processo de reabilitação é prolongado e depende da adesão do paciente. A longo prazo, a conduta não consiste apenas no tratamento dessa musculatura, mas na identificação e modificação dos fatores biopsicossociais, isso é, da parte de fatores físicos que podem estar ampliando a dor mas também fatores sociais e emocionais.
3 Dicas para afastar a Síndrome Miofascial
- Exercícios Físicos Afastar o sedentarismo da sua vida contribui não apenas para a melhora física, mas também psicológica e de bem-estar. Lembre-se que a dor crônica gera o medo de se movimentar, e isso se torna um ciclo vicioso de mais dor pela imobilidade. Procure por uma atividade física orientada por um educador físico.
- Controle do Estresse Além das conhecidas dicas valiosas em relação à meditação, técnicas de respiração e terapia. Procure por atividades no dia a dia que te proporcionem prazer e auto- cuidado. Não vale usar a desculpa de fumar para controlar o estresse.
- Terapia Manual A terapia manual consiste no uso de técnicas de massagem tecidual. As técnicas de liberação miofascial liberam o músculo e a fáscia e se baseiam na pressão manual sobre as fáscias musculares, liberando as restrições faciais. Fazer regularmente pode diminuir a chance de se tornar um problema crônico. Procure um fisioterapeuta para avaliar a necessidade desse tipo de atendimento.
*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP e Griffith University Renata Luri @renataluri e da fisioterapeuta pela UNIFESP Juliana Satake @jusatake
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Sobre a autora
Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP
Sobre a coluna
Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.