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Paola Machado

Como identificar a pubalgia e três táticas eficazes para evitar a lesão

Paola Machado

01/08/2019 04h00

Crédito: iStock

Você sabia que dor na região da virilha ou do púbis é extremamente comum entre jogadores de futebol? Para se ter uma ideia, um em cada cinco jogadores já tiveram experiências dolorosas nesta região, o que gera diversos prejuízos e afastamento do esporte.

A pubalgia é caracterizada por dor e desconfortos na região da sínfise púbica — em torno do púbis. Pode, muitas vezes, estar associada à dor irradiada para musculatura do abdômen e adutora –músculos da parte interna da coxa, conhecida como região da virilha. Essa região possui grande inervação e, por isso, é comum o "pinçamento" de trajetos nervoso, o que gera dores intensas.

Apenas jogadores de futebol têm dor no púbis?

Não apenas jogadores de futebol podem apresentar pubalgia, essa dor apresenta uma alta incidência em atletas principalmente em esportes que exijam bruscas movimentações de quadril ou movimentos abruptos repentinos, como beisebol, atletismo, basquete, tênis e natação. Também pode acometer gestantes devido às alterações biomecânicas no corpo da mulher e pessoas que pratiquem exercícios de forma regular.

Geralmente, a dor acontece após chutes, mudanças bruscas de direção ou ao correr. Por seu difícil diagnóstico, muitos pessoas continuam no esporte mesmo com dor e apresentam grandes chances rupturas de tendão devido aos microtraumas repetitivos e à força excessiva de tração.

Como ocorre a pubalgia?

O púbis faz parte dos ossos do quadril e se localiza logo abaixo em sua parte mais central, nesta região estão inseridos os músculos do abdômen e a musculatura interna das coxas. A área é responsável pelo equilíbrio entre as partes superiores e inferiores do corpo, sendo uma ligação vital de transferência de forças da região lombossacral para a articulação do quadril. A pubalgia surge quando há desequilíbrio muscular nestas regiões, levando à sobrecarga e inflamação.

Diagnóstico

A pubalgia é de difícil diagnóstico, tanto no exame clínico como em exames de imagem. O diagnóstico é amplo e muitas vezes baseado em exclusão, desta forma, outras patologias devem ser descartadas, como é o caso de doenças intra-articulares como ruptura labral, sacroiliíte, hérnia de disco lombar, bursite do íliopsoas e doenças da cavidade pélvica –como cistos de ovário e hérnias inguinais que apresentam os mesmos sintomas.

  • Origem da lesão Multifatorial
  • Maior incidência Homens atletas jovens*

*No entanto, alguns estudos mostram que a alta incidência pode estar mais relacionada ao esporte que ao gênero. No caso do futebol, os homens praticam mais.

Tratamento

Estudos científicos recentes têm mostrado que não há diferenças na recuperação em casos cirúrgicos e não cirúrgicos, desta forma, devemos considerar o tratamento conservador, isso é, não cirúrgico, como primeira linha de tratamento antes de qualquer procedimento invasivo.

O tratamento inicial consiste em repouso, fisioterapia e tratamento medicamentoso, que pode ser prescrito para aplicação na região da inserção dos músculos reto abdominal e adutor longo. O controle da dor e a redução do edema (inchaço) são os principais objetivos durante a primeira fase de reabilitação.

Mas atenção. Nesta fase é imprescindível o repouso e afastamento da atividade física. Retornar ao esporte antes dessa primeira fase de tratamento pode regredir seu quadro. Além disso, para controle da dor e para auxiliar no tratamento fisioterapêutico também são utilizados laserterapia, terapia por ondas de choque, mobilizações articulares e musculares, manipulações e liberação de pontos gatilhos.

Após essa fase aguda da lesão, é importante focar no equilíbrio entre as forças musculares. O fortalecimento da musculatura adutora, flexora, rotadores internos, externos, estabilizadores e musculatura lombo-pélvica (isso é, o trabalho conjunto de toda a musculatura na região de quadril) faz parte de uma recuperação efetiva, além disso, o treino neuromuscular, a reeducação postural e o treino do gesto esportivo são importantes para o retorno ao esporte.

Caso o atleta não recupere as suas funções no esporte e apresente dor, o tratamento cirúrgico deve ser realizado.

Ciência comprova o que é eficaz para prevenção

Os estudos apontam alta incidência em pessoas que apresentam pouca amplitude de movimento na região de quadril, associada à perda de força e de alongamento da musculatura adutora.

Três dicas eficazes

  1. Foque em um programa preventivo Não adianta jogar ou praticar exercícios e achar que isso basta para ser saudável. Ser atleta de final de semana não é a chave para se manter com longa vida em qualquer esporte.
  2. Invista em atividades físicas orientadas Complemente sua prática esportiva com orientação adequada de um profissional de saúde para o fortalecimento dos músculos adutores de quadril, do core e dos flexores de quadril, que comprovadamente a ciência aponta que desempenham um importante papel na prevenção da pubalgia. Exercícios de controle de quadril e controle lombo-pélvico são essenciais quando bem realizados.
  3. Respeite seu corpo e o tempo para ele se recuperar! Caso tenha jogos ou uma rotina intensa de treinamentos, vale investir em sessões de recuperação ou mais conhecidos como recovery –exemplo a liberação miofascial, a mobilização articular ou algum método para diminuir o estresse fisiológico do corpo.

*Colaboração Dra. Renata Luri, Fisioterapeuta e Doutora pela UNIFESP e Dra. Juliana Satake, Fisioterapeuta pela Unifesp

Referências:
– Oliveira. A. L. et al. Perfil epidemiológico dos pacientes com diagnóstico de pubalgia do atleta. Rev. brasileira de ortopedia. v.51, n.6, p:692–696, 2016.
– Kajetanek, A et al. Athletic pubalgia: Return to play after targeted surgery. Orthopaedics & Traumatology: Surgery & Research. v.104, n.4, p.469-472, 2018.
– Zoland, M. P. et al. Sports Hernia/Athletic Pubalgia Among Women. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, v.6, n.9,2018.
– Harøy J, et al. The Adductor Strengthening Programme prevents groin problems among male football players: a cluster-randomised controlled trial. Br J Sports Med, n.0,p.1–8, 2018.
– King W, et al. Clinical and biomechanical outcomes of rehabilitation targeting intersegmental control in athletic groin pain: prospective cohort of 205 patients. Br J Sports Med, n.0, p.1-9, 2018.
– Serner A, et al. Mechanisms of acute adductor longus injuries in male football players: a systematic visual video analysis. Br J Sports Med, n.0, p.1–8, 2018.
– Kristian et al. Clinical Examination, Diagnostic Imaging, and Testing of Athletes With Groin Pain: An Evidence-Based Approach to Effective Management. Journal of orthopaedic & sports physical therapy, n.4, v.48, 2018.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.