Por que tantas pessoas desistem no meio da busca por hábitos saudáveis
Quantas vezes desmotivamos? E quantas vezes em um só dia podemos nos motivar e logo depois perder essa motivação? O aspecto motivacional interfere diretamente na mudança ou não do estilo de vida. Qualquer coisinha que acontece no nosso dia pode ser um gatilho para a desmotivação e pode vir em um lapso que dura minutos ou uma vida.
É muito complexo falar de motivação e já fiz um texto bem complexo sobre motivação intrínseca e extrínseca. Se analisarmos estudos mais antigos que avaliavam motivação, Dimatteo em 1994 já mostrava que 38% dos pacientes deixaram de seguir um tratamento agudo recomendado –como o uso de antibióticos –, 43% dos pacientes não aderiam a um tratamento crônico e 75% dos pacientes não seguiam as recomendações médicas relacionadas a mudanças de estilo de vida, como alimentação, exercícios, abandono do cigarro etc. Em 1995 Dishman mostrou que 50% dos indivíduos que iniciam um programa de treinamento o abandonarão dentro de 3 a 6 meses. Esses números mudaram e continuam aumentando. Mas a grande pergunta que fica é: por que tantas pessoas desmotivam e abandonam a mudança de estilo de vida? O que acontece?
Quando falamos em estudos de mudança de estilo de vida –e até no meu de doutorado — é natural uma evasão de cerca de 30%. Já sabemos que ela acontece, pois o público é um público evasivo, que sempre muda de exercício, muda de dieta e sempre está em dieta. As mudanças, quando partem do paciente, sempre vêm acompanhadas de um início empolgado, querendo treinar todos dias e criando metas utópicas. Aí, no meio do processo desandam.
O conceito de complacência, descrito por Holli e Calabrese em 1991, mostra que o comportamento alimentar –e também podemos incluir aqui a rotina de treino — coincidem com as recomendações do profissional e dessa forma os planos alimentares e de treinos tornam-se passivos e complacentes pelo paciente. O que isso significa? Que ele replica e não aprende. Informações básicas e práticas não são passadas. As razões daquelas recomendações não são explicadas e a alimentação saudável é supervalorizada, sendo uma linha tênue para a desistência, pois qualquer desandada pode ser um gatilho para a "fuga" desse novo estilo de vida.
A motivação é o que faz a pessoa agir ou o que estimula a pessoa a essa ação, sendo um processo que instiga um novo comportamento, fornecendo um propósito e direção, permitindo a persistência a essa mudança e conduzindo as escolhas ou preferências desse novo comportamento.
O que deve ficar claro é que as influências motivacionais de hoje podem ser diferentes da de amanhã e o que acaba ocorrendo é que as metas de curto prazo podem preceder as de longo prazo.
Dentre os fatores que interferem na mudança de estilo de vida a literatura pontua:
– Práticas culturais e éticas.
– Influência familiar e social.
– Preço do alimento.
– Prestígio pelo alimento.
– Preparo, armazenamento e habilidades no preparo.
– Tempo para comer com tranquilidade e se exercitar.
– Preferências.
– Fatores afetivos que levam a atitudes.
– Qualidades sensoriais.
– Aspectos fisiológicos.
Temos que entender que o imediatismo e expectativas altas com um estilo de vida novo e saudável podem frustrar. O que temos que ter é sempre o pé no chão e colocando na prática o que está no papel, pois muitas vezes saímos dos consultórios e engavetamos um planejamento alimentar.
Por isso, seja crítico com você mesmo.
– Tente detectar os pequenos erros –na maioria das vezes culpamos o pão do café da manhã e ele não é o vilão do processo.
– Comece pelo micro, não pelo macro. O macro é sempre o que você tenta fazer, o que você sabe, o planejamento que você nunca coloca em prática. O micro são os pequenos erros e esses são muito mais difíceis de mudarmos quando mudamos o macro antes. Então, comece pelos erros pequenos, pois você mudará seu estilo de vida aos poucos.
– Tente trazer para consciência as ações que faz de forma inconsciente. Essas ações são as mais impulsivas e os principais gatilhos para o processo de desmotivação, ou seja, você tascou uma lata de leite condensado e depois se deu conta e pensou "agora foi tudo por água abaixo". Se sua vontade foi impulsiva, tente tirar uma foto antes, mandar para alguém, trazer para a consciência de alguma forma e romper essa barreira do impulso. Assim, você vai repensar se vale a pena. E se pensar que vale a pena, coma sem culpa.
– Pare de estabelecer metas inatingíveis, utópicas, que nunca atingiu. Seja realista. Coloque as metas no chão. O que fazer a mais é lucro. Pense que você sempre vai querer fugir disso tudo — e uma forma disso acontecer é após se frustrar.
– Seja positivo e esteja ao lado de pessoas que te ajudem a mudar.
– Junto com um profissional de saúde, ache as soluções para os seus problemas e não arrume mais problemas.
– Foque na motivação intrínseca, principalmente na sua saúde. Isso é o que de fato importa.
– Pense que a vida é inconstante e é normal que nada dê certo em algum dia. Em uma semana, na maioria dos dias acontece contratempos e nada sai como planejado. Isso é normal e não é motivo algum para desistência e, sim, para organizar melhor sua rotina.
– Pense sempre nos dias como únicos e no balanço dentro de um mesmo dia, nunca jogue para o outro dia.
– Final de semana também são dias que podem e devem ser contados. Seu metabolismo não é diferente no sábado e domingo e seu coração não deixa de bater. Por isso, se você precisa treinar 3 vezes por semana e trabalha de segunda a sexta até tarde, escolha malhar em um dia da semana e no sábado e domingo.
O que vocês devem saber é que a desmotivação acontece. A recaída faz parte do processo — querer fugir também. Por isso, não dificulte. A dificuldade é um pulo para a desmotivação. Facilite. Se não quer entrar em uma academia, comece pela alimentação. Opte por estratégias que o permita focar em uma progressão ou uma constância.