Anda mais estressado e ansioso em casa? Pode ser cefaleia tensional

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Anda mais estressado e ansioso em casa? Saiba como esse quadro pode desencadear uma doença que afeta até 74% dos brasileiros. 08Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que em algum momento da sua vida ocorrerá algum episódio de dor de cabeça.
Cerca de 80% da população sofre com esse problema, mas somente 10 a 20% das pessoas procuram por tratamento correto.
Embora sentir dores de cabeça seja comum, não deve ser encarado como um sintoma normal. A dor de cabeça é considerada um distúrbio incapacitante que diminui a qualidade de vida.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia, cerca de 38% a 74% dos brasileiros sofrem com cefaleia tensional. Geralmente, essa doença acomete mais mulheres na faixa etária entre os 20 e 50 anos.
É causada pelo aumento da sensibilidade muscular na região da cabeça e hipersensibilidade generalizada quando pressionada a área. Nesse quadro há reação inflamatória, diminuição de fluxo sanguíneo e contratura de músculos da cabeça e do pescoço.
Causas desse tipo de dor de cabeça:
- Estresse emocional
- Estresse físico
- Ansiedade
- Cansaço
- Excesso de trabalho
- Fatores nutricionais relacionados ao consumo de alimentos e bebidas irritativos (cafeína e álcool, por exemplo)
- Fadiga visual e congestão nasal
- Problemas dentários ou hábitos parafuncionais como o bruxismo
Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas não estão relacionados apenas à cabeça, mas a uma desordem do corpo todo associado principalmente a fatores emocionais.
Características da cefaleia tensional:
- Dores com intensidade de leve a moderada
- A pessoa sente um tipo de dor por pressão ou em aperto em toda a cabeça geralmente associada à dor ou tensão na região da nuca, pescoço e ombros, além de náusea leve, fotofobia e fonofobia (sensibilidade à luz e ao som, respectivamente)
- A dor pode durar uma hora ou vários dias
- Há a presença de pontos gatilhos ativos, isso é, pontos que ao serem pressionados podem piorar os sintomas
Além disso, a cefaleia tensional geralmente vem acompanhada de fatores perpetuantes que podem ser mecânicos, emocionais, metabólicos, viscerais e de privação de sono. Esses sintomas e fatores em conjunto levam ao aumento da sensibilidade, rigidez, fraqueza, diminuição da amplitude de movimento e disfunção autonômica.
A literatura relata o papel das desordens próximas às regiões de cabeça e pescoço, mais especificamente em coluna cervical, articulação temporomandibular (ATM), hérnia de disco e sinusite que estão presentes em grande parte dos quadros de cefaleia tensional. Essa informação é importante porque o tratamento adequado dessas comorbidades pode levar ao desaparecimento da dor de cabeça.
Prevenção
Sabendo quais as causas e os fatores de risco, a prevenção consiste em controlar tudo o que possa disparar a dor de cabeça como, por exemplo, o estresse, os hábitos de sono e de compensações posturais.
Saiba que se manter ativo e praticar exercícios físicos ajudam no combate aos fatores desencadeantes. Portanto, invista nesse tipo de prevenção!
O problema da automedicação
Se você sofre de dores de cabeça e recorre sempre à medicação sem prescrição médica adequada, saiba que você não está tratando a CAUSA do problema. Além disso, está se expondo a efeitos colaterais e de cronificação.
É comum pessoas com dores de cabeça agudas fazerem uso de analgésicos de fácil acesso para mascarar a dor. No entanto, se você vem observando que as dores de cabeça estão aumentando de frequência ou intensidade, ou que a dose de analgésico já não parece ser suficiente, seu quadro pode não ser mais tensional e merece grande atenção pois pode ser decorrente do uso excessivo de analgésicos.
Dor crônica e dores de cabeça
O maior risco de fazer uso de analgésicos de forma indiscriminada, sem um diagnóstico e orientação médica adequada, é o fato de que o organismo se adapta ao uso contínuo e perde com isso os mecanismos de regulação da dor.
Há um ciclo vicioso e perigoso de aumento de dor com o aumento de consumo de analgésicos, caracterizando-se como uma dor de cabeça com efeito rebote.
Tratamento
O tratamento adequado com profissionais da área de saúde pode interromper continuamente o ciclo de dor evitando sua regressão.
Os métodos conservadores envolvem terapias cognitivo comportamentais, intervenções na alimentação, mindfulness, melhora da qualidade do sono e técnicas para o controle da dor e melhora da função comprometida.
Estudos científicos apontam que o tratamento fisioterapêutico individualizado é benéfico, pois abrange técnicas eficazes no tratamento de cefaleias e disfunções associadas ao comprometimento craniocervical.
Nesse tratamento, podem ser usados recursos como a aplicação de técnicas de relaxamento, recursos terapêuticos, liberação de pontos gatilhos miofasciais e cinesioterapia no controle da dor, retorno de funcionalidade e prevenção, além de trazer conscientização corporal que favorece o alinhamento e mobilidade postural.
Nesse momento de quarentena, se você tem o diagnóstico de cefaleia tensional e tem sofrido de ansiedade e estresse, uma dica simples além do uso de técnicas de controle de estresse com respiração, é fazer o uso em casa de compressa quente.
Como fazer compressa quente
Use uma bolsa térmica quente envolta por um pano fino aplicada na região cabeça, nuca, pescoço e ombros por cerca de 20 minutos.
O calor provoca vasodilatação e relaxamento da musculatura que se encontra tensa devido ao estresse.
Se a dor perdurar por dias é importante tão logo o isolamento finalizar buscar acompanhamento médico especializado –neurologista–, para se excluir outras possíveis causas.
É importante sempre procurar um profissional da saúde especializado para avaliação do caso, compreender os fatores desencadeantes que variam de pessoa para pessoa e a partir disso, contar com uma equipe especializada para elaborar um plano terapêutico adequado.
Mantenha-se atento aos sinais e sintomas de seu corpo, não banalize a dor de cabeça frequente e controle os fatores que estão ao seu alcance agora.
Renata Luri Fisioterapeuta Doutorada pela Unifesp @renataluri
Bruna Farias Barreto, Fisioterapeuta pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Instagram: @brunafbarreto
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