Sedentarismo e má alimentação podem levar ao acúmulo de gordura no fígado
O acúmulo de gordura corporal na região abdominal (gordura visceral) é muito perigoso para nossa saúde, pois pode levar à síndrome metabólica, acarretando na resistência à insulina, problemas cardiovasculares, diabetes e esteatose hepática não alcoólica, doença que afeta até 39% da população mundial.
As esteatoses hepáticas são caracterizadas pelo acúmulo de gordura no fígado e classificadas como alcoólicas –provocadas pelo consumo excessivo de bebidas– e não alcoólicas (EHNA).
A EHNA é uma manifestação hepática da síndrome metabólica, que caracteriza-se pela presença de gordura no hepatócito, que são as células encontradas no fígado capazes de sintetizar proteínas. Ela pode variar em esteatose hepática simples, esteatose-hepatite não alcoólica, cirrose e hepatocarcinoma (câncer).
Também conhecida por doença hepática gordurosa, gordura no fígado ou fígado gorduroso, a condição é cada dia mais comum, podendo atingir 50% dos diabéticos, 57% a 74% dos obesos e até 90% dos obesos mórbidos.
Os mecanismos envolvidos no desenvolvimento e progressão da esteatose não são bem esclarecidos. Porém, a resistência à insulina, o estado inflamatório, o sobrepeso, o diabetes, fatores genéticos, má alimentação, perda de peso muito rápida e o estilo de vida sedentários são gatilhos para o desenvolvimento dessa patologia.
A primeira hipótese que pode desencadear o desenvolvimento da EHNA é a resistência insulínica. A influência de fatores genéticos e ambientais leva à resistência insulínica periférica, aumentando os ácidos graxos não esterificados. Assim, há um maior influxo dos ácidos graxos do hepatócito e aumento da lipogênese hepática, ou seja, ocorre um acúmulo de gordura no fígado.
A segunda hipótese refere-se ao acúmulo de gordura visceral, que também contribui para o desenvolvimento de resistência insulínica. O tecido adiposo visceral –gordura ao redor dos órgãos vitais, que costuma ser observada em pessoas com maior circunferência abdominal — é composto por células inflamatórias que aumentam a liberação de adipocinas (proteína do tecido adiposo) inflamatórias — como a leptina e TNF-alfa, reduzindo a secreção de adiponectina (proteína responsável pela regulação da glicose no sangue e degradação dos ácidos graxos) e adipocinas anti-inflamatórias. Isto é, pode ocorrer um acúmulo de gordura no fígado, progredindo até para um quadro de cirrose.
A grande maioria dos pacientes não sente nenhum tipo de sintoma, porém, em estágios mais avançados, podem surgir desconfortos abdominais, fadiga, mal-estar, perda de apetite, aumento do fígado, hepatomegalia, insuficiência hepática.
A detecção da doença ocorre por meio de exames clínicos, exames de sangue e de imagem (ultrassonografia, ressonância magnética e tomografia computadorizada). Em alguns casos é preciso realizar uma biópsia hepática. Uma vez detectada a alteração, é indispensável estabelecer o diagnóstico diferencial com outras patologias secundárias, como drogas e medicações, exposição a toxinas ambientais, alterações metabólicas etc.
A influência dos exercícios sobre a esteatose hepática
Todos sabemos os benefícios da prática esportiva e a inclusão de estratégias de estilo de vida ativo no dia a dia. O gasto energético proporcionado por atividades físicas auxilia na redução do peso, contribuindo para a diminuição de doenças associadas a excesso de gordura no corpo.
Como grande parte da população que sofre de EHNA tem sobrepeso ou obesidade, exercícios combinados –envolvendo treinos de musculação para melhorar a qualidade e manutenção de massa magra e atividades aeróbicas — são importantes para que o paciente reduza o peso de forma eficiente, melhorando a qualidade de vida.
Estudos apontam que a combinação de exercícios aeróbicos e resistidos apresenta resultados mais satisfatórios na redução de massa corporal, como já exposto aqui na coluna, bem como na prevenção e tratamento da obesidade e de suas comorbidades, quando comparados ao exercício isolado. O exercício combinado reduz a síndrome metabólica, melhorando o processo inflamatório, incluindo o aumento na concentração de adiponectina e o controle de fatores de risco da obesidade.
No entanto, há necessidade de novos estudos para reforçar os benefícios da prática de atividade física no combate à EHNA.
O tratamento da esteatose hepática deve ser focando na redução da composição corporal de gordura e melhora da homeostase da glicose e da resistência insulínica. E o exercício melhora a sensibilidade insulínica muscular, reduzindo a resistência insulínica na EHNA.
Saiba que o quadro pode ser influenciado mais pela intensidade do que a duração de exercício ou volume total.
A influência da alimentação sobre a esteatose hepática
A ingestão alimentar excessiva ou a alta ingestão de carboidratos e/ou lipídios pode levar à elevação de glicose, insulina e ácido graxo livre no plasma. Por esse motivo, a dieta inadequada pode desenvolver a resistência à insulina e contribuir para o acúmulo de gordura no fígado.
As orientações gerais para diminuir o risco de doenças hepáticas são:
- Redução da ingestão de gorduras.
- Redução da ingestão de carboidratos simples.
- Aumento do consumo de antioxidantes, como vitamina E e magnésio.
- Balanço adequado entre consumo e gasto calórico.
- Redução ponderada da massa corporal.
Vale enfatizar que a redução brusca da massa corporal pode levar à fibrose hepática e aumento dos ácidos graxos livres nas células do fígado.
É importante ressaltar que para o tratamento e prevenção é necessário intervenção de uma equipe multi e interdisciplinar.